Friday, April 6, 2007

Histórias para boi não dormir

Ilustrações de Carlos Kantek

Ana era uma criança muito sabida. Ela morava na fazenda Sete Estrelas com os seus pais, os seus avós e muitos animais.

Como todos na fazenda, Ana acordava com o galo e as galinhas para ajudar o seu pai no pasto, enquanto a mãe e a avó cuidavam do jardim e da cozinha. O avô, que era marceneiro construía cercas, casas para os bichos e muitos brinquedos para a sua neta.

Em uma tarde ensolarada, Ana pediu ao pai, sem mais nem menos, para ficar com o gado no pasto. O pai, que nunca a havia deixado sozinha, pensou e pensou e após alguns minutos de indecisão decidiu deixá-la ficar porque sabia que a filha era uma menina responsável.


Naquela tarde, Ana percebeu que a maior parte das vacas e bois cochilou por três horas. Apesar de criança, Ana sabia que um cochilo bovino que durasse mais de uma hora, não era um bom sinal e nem um cochilo! Aflita, correu até a sede e chamou pelo pai, pela mãe, e por quem mais quisesse e pudesse ouvir.

Quem veio ao seu encontro foi a sua mãe. Juntas elas correram para o pasto. No caminho, Ana, atrapalhada, atropelou as palavras e a mãe, que não conseguiu entender nadinha do que a filha falava. No pasto, mãe e filha preocupadas tentavam acordar os animais com gentileza, dizendo: "Vento, vento, que bate no seu rosto. Sol quente que aquece o seu corpo. Levanta vaca e levanta boi, que a hora da soneca já se foi."

Enquanto os animais despertavam do cochilo, a mãe contou para Ana a história dos bovinos acometidos pela tristeza do final do verão, das terras do seu bisavô. Ana escutou a história com muita atenção. Ela queria aprender com os seus antepassados o que fazer para salvar essas vacas e bois da tristeza.


Então a mãe explicou que os bovinos do seu bisavô se recuperaram com alguns minutos diários de histórias populares, contos e lendas, e também histórias inventadas, assim, sem pé nem cabeça. As famosas histórias para boi não dormir. Boi e vaca, nesse caso. Ana, entusiasmada, prontificou-se a contar histórias todos os dias para os animais do pasto.

A melhora dos bichos chamou a atenção de todos da família e Ana logo se tornou conhecida como a contadora de histórias da redondeza. Ana aprendeu que os animais não estavam tristes somente pela chegada do inverno, e sim pela solidão e falta de calor humano.

Ana compreendeu também que a tristeza é um sentimento natural que faz parte da vida dos homens e dos animais e que uma boa companhia e boas histórias podem ajudar a tristeza a abrir espaço para a alegria.

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