
Ilustrações de Carlos Kantek
Ana era uma criança muito sabida. Ela morava na fazenda Sete Estrelas com os seus pais, os seus avós e muitos animais.
Como todos na fazenda, Ana acordava com o galo e as galinhas para ajudar o seu pai no pasto, enquanto a mãe e a avó cuidavam do jardim e da cozinha. O avô, que era marceneiro construía cercas, casas para os bichos e muitos brinquedos para a sua neta.
Em uma tarde ensolarada, Ana pediu ao pai, sem mais nem menos, para ficar com o gado no pasto. O pai, que nunca a havia deixado sozinha, pensou e pensou e após alguns minutos de indecisão decidiu deixá-la ficar porque sabia que a filha era uma menina responsável.

Naquela tarde, Ana percebeu que a maior parte das vacas e bois cochilou por três horas. Apesar de criança, Ana sabia que um cochilo bovino que durasse mais de uma hora, não era um bom sinal e nem um cochilo! Aflita, correu até a sede e chamou pelo pai, pela mãe, e por quem mais quisesse e pudesse ouvir.
Quem veio ao seu encontro foi a sua mãe. Juntas elas correram para o pasto. No caminho, Ana, atrapalhada, atropelou as palavras e a mãe, que não conseguiu entender nadinha do que a filha falava. No pasto, mãe e filha preocupadas tentavam acordar os animais com gentileza, dizendo: "Vento, vento, que bate no seu rosto. Sol quente que aquece o seu corpo. Levanta vaca e levanta boi, que a hora da soneca já se foi."
Enquanto os animais despertavam do cochilo, a mãe contou para Ana a história dos bovinos acometidos pela tristeza do final do verão, das terras do seu bisavô. Ana escutou a história com muita atenção. Ela queria aprender com os seus antepassados o que fazer para salvar essas vacas e bois da tristeza.

Então a mãe explicou que os bovinos do seu bisavô se recuperaram com alguns minutos diários de histórias populares, contos e lendas, e também histórias inventadas, assim, sem pé nem cabeça. As famosas histórias para boi não dormir. Boi e vaca, nesse caso. Ana, entusiasmada, prontificou-se a contar histórias todos os dias para os animais do pasto.
A melhora dos bichos chamou a atenção de todos da família e Ana logo se tornou conhecida como a contadora de histórias da redondeza. Ana aprendeu que os animais não estavam tristes somente pela chegada do inverno, e sim pela solidão e falta de calor humano.
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